domingo, 7 de junho de 2009

Secretaria Especial para Assuntos EstratégicosSecretaria Especial para Assuntos Estratégicos

Ministro Mangabeira Unger defende ação popular para melhorar o Brasil

O ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger (foi professor do Presidente Obama), defendeu nesta terça-feira (27), em Curitiba, a participação popular na discussão das propostas que planejam o desenvolvimento do país para um futuro próximo. “O Brasil todo está à busca de um novo modelo de desenvolvimento baseado em ampliação de oportunidades econômicas e educativas, e em participação popular”, disse Mangabeira ao final da palestra na Escola de Governo, coordenada pelo governador Roberto Requião.Além das oportunidades econômicas - ampliação de créditos e nova relação entre capital e trabalho - e melhorias na educação, Mangabeira também destacou a importância de um modelo de desenvolvimento sustentável na Amazônia e de um plano de segurança nacional. “Estou identificando um conjunto de iniciativas concretas que encarnem e antecipam esse outro rumo de desenvolvimento. São como a primeira prestação de um futuro diferente para o país”. As oportunidades educativas, segundo Mangabeira, devem reconciliar padrões de investimentos, de qualidade de ensino público, com a gestão local das escolas pelos estados e pelos municípios. “A qualidade de educação que uma criança brasileira recebe não pode depender do acaso do lugar onde ela nasce. Ao mesmo temos que mudar completamente o nosso método de ensino. Passar de um ensino informativo e enciclopédico para um ensino um ensino analítico e capacitador”.Em outra frente, o conjunto de iniciativas econômicas deve ampliar o acesso ao crédito, à tecnologia, ao conhecimento em favor das pequenas empresas e dos empreendimentos emergentes. “Temos que reorganizar as relações entre o capital e o trabalho no Brasil. A economia brasileira hoje está ameaçada de ficar imprensada no mundo entre economias de trabalho barato e economias de produtividade alta. O interesse nacional é escapar dessa prensa pelo lado alto: de valorização do trabalho, escalada de produtividade. E não pelo lado baixo do aviltamento salarial”.Outro projeto nacional, disse Mangabeira, é o desenvolvimento sustentável da Amazônia. “Não podemos aceitar a idéia da Amazônia se transformar em parque. Ao mesmo tempo não podemos abrir a Amazônia para as forças destruidoras do mercado. Precisamos criar uma estratégia econômica que tenha soluções diferentes para as partes diferentes da Amazônia. O Brasil se transformará, transformando a Amazônia”.Mangabeira também defende um grande projeto de defesa nacional. “Nós nunca tivemos no Brasil, uma discussão civil e nacional a respeito da defesa. O objetivo é a reorganização das Forças Armadas em torno de uma vanguarda tecnológica e operacional, baseada em capacitações nacionais. Não seremos os mais poderosos, sejamos os mais inteligentes e ousados, desenvolvendo uma cultura militar, uma estrutura militar, pautadas por flexibilidades, por mobilidade, por capacidade de surpreender”.Leia a seguir a íntegra da entrevista que o ministro concedeu logo após o encerramento da Escola de Governo desta terça-feira (27).A exposição de suas propostas agradou a todos na Escola de Governo, mas na prática esses projetos já começam a ganhar corpo?Mangabeira Unger – Eu digo duas coisas. Primeiro: o Brasil todo está à busca de um novo modelo de desenvolvimento baseado em ampliação de oportunidades econômicas e educativas, e em participação popular. O país sempre cresceu dentro de setores favorecidos, internacionalizados. Esses setores geravam riquezas e uma pequena parte dessa riqueza era usada para financiar as atividades sociais. Isto é importante, mas não basta. O que Nação quer agora é transformar a ampliação de oportunidades no próprio motor do crescimento econômico. O Brasil está pronto para isso. Fervilha de energia humana dispersa e frustrada. E agora quer iniciar esse modelo de desenvolvimento. O governo Lula criou as condições para isso. Criou as condições para isso, em primeiro lugar, porque assegurou a estabilidade econômica para que a inflação não volte. Em segundo lugar, porque tomou medidas emergenciais para atender as carências mais dramáticas da população pobre. E em terceiro lugar, porque com o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) começou a recuperar o investimento público e o potencial estratégico do estado brasileiro.A base dessas três condições é que nós podemos agora iniciar o conjunto de medidas que comecem a mudar o nosso modelo de modelo de desenvolvimento. É isso que estou fazendo. Eu não estou fazendo um discurso genérico. Eu não estou elaborando apenas um projeto conceitual para o futuro. Eu estou identificando um conjunto de iniciativas concretas que eu possa desenvolver em colaboração com os outros ministros. Essas iniciativas encarnem e antecipam esse outro rumo de desenvolvimento. São como a primeira prestação de um futuro diferente para o país. O que mudou no governo Lula para que o senhor passasse de crítico a integrante do governo?Mangabeira Unger – Eu fui um crítico severo de alguns aspectos do primeiro governo. Em várias dessas críticas, eu errei. Mas esse não é ponto agora. O ponto que foi muito difícil para o presidente me convidar e foi difícil para mim aceitar o convite. No final prevaleceu para ele e para mim, a convicção da importância dessa tarefa. Eu estou esperançoso, convicto, determinado e, sobretudo, recebendo o apoio entusiasmado do presidente.Nós estamos no início de uma grande tarefa. Eu começo a viajar o país e buscar o diálogo com os governos dos estados e com a sociedade brasileira. Porque o projeto definido por essas iniciativas, não é apenas um projeto de governo. É também um projeto de Estado destinado a sobreviver o ciclo eleitoral, ter uma vida mais longa do que a vida do governo atual. Nós precisamos focar o seguinte: o Brasil transborda de vitalidade. Nós temos uma imensa energia empreendedora que se multiplica por todo o país. Falta instrumento. A tarefa é dar braços e asas ao dinamismo frustrado do povo brasileiro.O Brasil já têm condições de ter esses instrumentos, de tocar essa empreitada?Mangabeira Unger – Nós estamos num momento singularmente auspicioso. Todas as condições internas e internacionais favorecem a formulação de uma grande estratégia nacional de desenvolvimento. Esse é o momento. É aqui e agora.Por isso que eu estou desenvolvendo, primeiro, um conjunto de iniciativas de ampliação de oportunidades educativas, inclusive, reconciliar padrões nacionais de investimentos, de qualidade de ensino público, com a gestão local das escolas pelos estados e pelos municípios. A qualidade de educação que uma criança brasileira recebe não pode depender do acaso do lugar onde ela nasce. Ao mesmo temos que mudar completamente o nosso método de ensino. Passar de um ensino informativo e enciclopédico para um ensino um ensino analítico e capacitador.Uma outra grande parte do trabalho é o conjunto de iniciativas que ampliem as oportunidades econômicas. De um lado, abrir acesso ao crédito, à tecnologia, ao conhecimento, à escala, em favor das pequenas empresas e dos empreendimentos emergentes que são a verdadeira força da economia brasileira. E em segundo lugar, reorganizar as relações entre o capital e o trabalho no Brasil. A economia brasileira hoje está ameaçada de ficar imprensada no mundo entre economias de trabalho barato e economias de produtividade alta. O nosso mais alto interesse nacional é escapar dessa prensa pelo lado alto: de valorização do trabalho, escalada de produtividade. E não pelo lado baixo do aviltamento salarial. Por isso mesmo, por orientação do presidente Lula, eu venho discutindo com todas as grandes centrais sindicais e com todas as forças interessadas na questão do capital e do trabalho no Brasil para encontrar o caminho dessa mudança. Outro grande projeto é a Amazônia. Nós não podemos aceitar a idéia da Amazônia se transformar em parque e ao mesmo tempo não podemos abrir a Amazônia para as forças destruidoras do mercado. Nós precisamos criar uma estratégia econômica que tenha soluções diferentes para as partes diferentes da Amazônia. O Brasil se transformará, transformando a Amazônia.E o grande projeto da defesa. Nós nunca tivemos no Brasil, uma discussão civil e nacional a respeito da defesa. Agora está começando. O objetivo é a reorganização das Forças Armadas em torno de uma vanguarda tecnológica e operacional, baseada em capacitações nacionais. Não seremos os mais poderosos, sejamos os mais inteligentes e ousados, desenvolvendo uma cultura militar, uma estrutura militar, pautadas por flexibilidades, por mobilidade, por capacidade de surpreender e desbordar.São todos esses grandes projetos de construção nacional. E todos eles colocam para o país uma questão central: queremos ou não queremos ser um grande país e desempenhar um papel singular e libertador na história da humanidade.O fio condutor deste desenvolvimento pode se dar através da mobilização dos movimentos sociais e outros segmentos sociais já que parece que há um descolamento das elites em relação a esse projeto de desenvolvimento?Mangabeira Unger – Esse é um projeto que precisa ser construído coletivamente e sem preconceito dentro do governo e dentro da sociedade brasileira. É claro que temos que ter como interlocutores a minoria organizada da sociedade civil brasileira. Mas ao mesmo tempo temos que reconhecer que a maioria do povo brasileiro ainda não se organizou dessa forma. E não podemos confundir os interesses e as perspectivas dessa minoria organizada com os interesses e as aspirações de todos. A minha tarefa também é instigar o Brasil, levantar o Brasil, seduzir o Brasil para esse debate a respeito do nosso futuro. Se nós compararmos a posição do nosso país com outros países grande e em desenvolvimento como a China, a Rússia e a Índia, veremos que nós temos condições incomparáveis. De um lado, nós temos uma democracia, falha, porém, vibrante. E de outro lado, nós temos a consciência e realidade da unidade nacional. Nós contamos com uma simpatia sem par no mundo. Ninguém é contra nós. Agora, chegou o momento de aproveitar essa circunstância, esse momento mágico na história brasileira para fazer o que nunca fizemos de uma forma sustentada. Rejeitar os formulários importados e abrir um caminho. Abrir um caminho que será, ao mesmo tempo, um resgate para nós e uma inspiração para o mundo.Ampliar a democracia participativa e da democracia direta também se apresentam como mecanismos e instrumentos dessa proposta de um novo desenvolvimento sustentado?Mangabeira Unger – A minha prioridade é tratar das iniciativas que ampliem as oportunidades econômicas e educativas, mas eu reconheço como pensador e como cidadão que o avanço dessas iniciativas econômicas e educativas depende também de uma transformação da política. Uma transformação que nos coloque no caminho do aprofundamento da democracia brasileira. O ponto de partida para isso, o primeiro passo, é tirar a política da sombra corruptora do dinheiro por uma série de iniciativas, práticas, que atenuem os vínculos entre a política e o dinheiro, como o financiamento público das campanhas eleitorais, substituição dos cargos comissionados por carreira de Estado e revisão do processo orçamentário. Mas eu preciso dizer com franqueza. Eu preciso eleger prioridades. E a minha primeira prioridade é engajar o país na construção de um outro caminho, na definição do seu modelo de desenvolvimento. No curso da luta, do debate, da criatividade, à respeito desse caminho, é claro que nós teremos que enfrentar também a tarefa da renovação das nossas instituições políticas. Mas os países na prática só mudam suas instituições políticas quando têm que mudá-las, para andar, para respirar, para sobreviver. Assim ocorrerá conosco. O Brasil é um país que transborda de vitalidade, mas historicamente faltou à nós o pendor para rebeldia. O que eu quero ver instaurado no país é essa disposição para rebeldia nacional.Como fazer um projeto nacional, um projeto para anos, e projeto esse projeto para que ele não esbarre em interesses eleitorais?Mangabeira Unger – Um projeto não é uma planilha que qualquer um possa tirar do bolso, da algibeira. É uma dinâmica coletiva e o que é crucial nessa dinâmica é a combinação de mensagem e iniciativa. Uma sem a outra não basta. É preciso ter um conjunto de iniciativas que funcionem como essa antecipação, essa antevisão de um outro futuro e interpretar essas iniciativas como primeira prestação de um futuro diferente.Como envolver todos os setores da sociedade nesse projeto, nessa proposta de futuro?Mangabeira Unger – Não há mágica para isso. É fazer o que estou fazendo aqui. Eu estou viajando o país todo provocando o debate, dentro do governo e dentro da sociedade. E o que estou verificando é um potencial surpreendente para convergências transformadoras. Eu, por exemplo, nunca teria imaginado que na reorganização das relações entre o capital e o trabalho haveria um potencial tão grande, como o potencial que eu constato, para a reorganização do modelo institucional do trabalho. Como resgatar da informalidade 60% dos trabalhadores brasileiros? Como reverter a queda da participação dos salários na renda nacional, que ocorre há meio século. Como começar a rever o regime sindical. Começa haver uma grande convergência a respeito desses temas que logo mais o país descobrirá.Acesse nossa galeria de fotos

Nenhum comentário: